quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Necessidade da Arte

Todo ser vivo para sobreviver precisa de alimento senão ele morre. Porém poucos sabem que existem o alimento do corpo e o alimento da alma. O alimento do corpo, que me refiro aqui, é a comida que produz energia. A alma se alimenta de três coisas: o pensamento (as idéias), o amor (a tudo e todos) e, finalmente, a arte. Uma pessoa que não produz arte ou que nao exerce o seu potencial criativo, esta no mínimo desnutrida.


Isto é combatido em nome de uma tradição “talvez” caduca, ou por uma espécie de resistência passiva peculiar dos que preferem não ver, para não ferir os olhos, não ouvir para não ter que pensar a respeito e não falar para não por em prova sua incapacidade.



Para que se aceite a arte é preciso, antes de tudo, que rompa com o passado e com os padrões. Essa ruptura visa situar a arte no tempo. E esse nosso tempo é de guerra, de invasões espaciais, de massificação do indivíduo.


Há o quase esmagamento do bicho-homem submetido aos avanços e a corrida pela tecnologia.


A arte, para não ser alienada, busca novas formas de expressão e de comunicação que sejam compatíveis com as tensões e os anseios da nossa época.


Há os que se mostram perplexos ante essas manifestações inusitadas de uma arte cada vez mais insubmissa. Podemos dizer que este processo de transformações nas artes plásticas já vem se realizando há quase cem anos, acentuadamente a partir do Impressionismo surgido no século da revolução industrial.



As mudanças afora são bruscas porque o artista de agora é criador fecundo e liberto de preconceitos; pensa, age e realiza em completo acordo com a dinâmica de nossos dias.


Está é sua maneira de participar.




“Quando a pintura e a escultura sé libertam da semelhança com o objeto, ou, igualmente, quando a música se liberta da tonalidade, revela-se, então, a necessidade de dar aa obra, a partir dela mesma, um pouco de objetividade da qual ela é desprovida na medida em que se limita o ser uma reação subjetiva a um dado qualquer. Quanto mais a obra de arte se desembaraça de maneira crítica de todas as condições que não são imanentes à sua própria forma, mais ela se aproxima de uma maior objetividade”.(Theodor Adorno)





FRIDA KAHLO: PERSONAGEM DE SI MESMA






“E eu te respondo: sobras tu. Achas pouco?

Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu,

que transcende os teus limites pessoais,

mergulhando no humano.(...)

E o poeta quanto mais individual,

mais universal, pois cada homem,

qualquer que seja o condicionamento do meio

e da época, só vem a compreender e amar o

que é essencialmente humano.”

Mário Quintana




Magdalena Carmem Frieda Kahlo Calderón nasceu em 6 de julho de 1907 em Cayoacán, um subúrbio da cidade do México. Sendo muito influenciada não apenas pela revolução mexicana, que acontece três anos após seu nascimento, mas pelo México em si. Kahlo começa realmente a pintar após um acidente entre um autocarro e um elétrico em 17 de setembro de 1925. Devido ao acidente, ficou de cama durante 3 meses. Passou um mês no hospital. Depois de inicialmente parecer ter se recuperado por completo, começou a sentir dores na coluna e no pé direito. Aproximadamente um ano depois deu nova entrada no hospital. Só então descobrira que tinha várias vértebras deslocadas. Durante nove meses seguintes teve de usar uma série de coletes de gesso.


Sempre com dores e sem saber se iria andar de novo, Frida começa a pintar principalmente ela mesma. Ela diria mais tarde “Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o tema que conheço melhor”. (KETTENMANN, 1994: Pág.18)

Estas palavras decifram os fundos quase sempre vazios e despidos, de paisagens mexicanas dos seus auto- retratos. Reflexos da solidão de Kahlo. As conseqüências deste acidente afetaram Frida em vida e em obra. Suas operações, médicos, abortos, e principalmente dores constantes que Frida tinha como seqüelas do acidente são temas freqüentes em seus quadros. Em 1927 ela escreve a um amigo “Neste hospital, a morte dança em volta da minha cama toda noite” ( ZANORA, 1990: Pág.10)





No seu “auto-retrato com vestido de veludo” , de 1926 podemos claramente ver influências da pintura de retratos mexicana do século XIX com influências européias. Sua mão delicada com dedos finos, ppescoço alongado, vestindo um veludo vermelho com um fundo escuro. Se comparado aos auto-retratos pintados na década seguinte, é fácil identificar o contraste das obras entre formas, traços e fundo. Procurava (assim como o México) identidade, cultura, povo. O quadro torna-se a expressão da sua própria consciência nacional, predominando as cores verdes, brancas e vermelhas da bandeira mexicana. Rejeitando regras de perspectiva e o “modelo muralista” da época, Frida não pintava apenas as paisagens do México, ela pintava-se às árvores e paisagens. Como uma rainha Midas a sua maneira. “–Tudo que eu toco se transforma em mim.” (QUINTANA, 2001:Pág.58)




Embora Frida não se considerasse surrealista ela foi assim reconhecida pelos críticos de arte da época, participando na Exposición Internacional Del Surrealismo, realizada na Galeria de Arte Mexicana, em janeiro e fevereiro de 1940. Mas, apesar de muitos dos seus trabalhos conterem elementos surreais e fantásticos, não podemos chamar-lhes surrealistas pois ela não chega a libertar-se completamente da realidade em nenhum deles. Nos seus trabalhos dá-se uma fusão entre facto e ficção, como se dá em tantos trabalhos da arte mexicana, como fossem componentes de um única realidade. “Minha surpresa e alegria”, disse André Breton escrevendo sobre Kahlo, “não tiveram limites quando, depois de chegar ao México, descobri que sua obra se desabrochara, nos últimos quadros pintados, em puro surrealismo, apesar de ter sido concebida sem qualquer conhecimento prévio do que fossem as idéias motivadoras do trabalhos de meus amigos e do meu”. (ADES, Dawn. A arte na América latina)

As raízes da pintura de Kahlo acham-se plantadas nos retábulos e ex-votos– tipo de imagem ingênua e rudimentar, com uma inscrição embaixo relatando o milagre detido por intercessão da Virgem, ou de algum santo.


Em 1929, Frida Kahlo casou-se com Diego Rivera. As influências ideológicas que ele exerceu sobre ela refletem-se tanto na obra, como no envolvimento de Frida Kahlo no círculo de artistas e intelectuais mexicanos que procuravam um arte mexicana independente. O mexicanismo encontraria sua primeira e maior expressão nas pinturas de murais. Jose Clemente Orozco, Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros ficaram particularmente consagrados como artistas de murais. As idéias nacionalistas não se limitavam, porém, à pintura monumental. Também surgiam como motivo de telas mais pequenas de artistas de primeira ordem como Gerardo Murillo, Adolfo Best Maugard e Roberto Montenegro. Em 1930 o casal muda-se para os EUA, Diego é encarregado de pintar murais para empresas, bancos e institutos de arte enquanto Frida conhece artistas, clientes e patronos.


Em 1939 parte sozinha para Nova York, onde faz sua primeira exposição individual, na galeria de Julien Levy, e é sucesso de crítica. Em seguida, segue para Paris. Lá é hospitalizada com uma infecção renal, mas também entra no mundo da vanguarda artística dos surrealistas. Conhece Pablo Picasso, Wassily Kandinsky, Marcel Duchamp, Paul Éluard e Max Ernst. O museu do Louvre adquire um de seus auto-retratos. No mesmo ano, divorcia-se de Diego, com quem volta a se casar um ano depois. Em 1942 começaram a dar aulas de arte em uma escola recém aberta na Cidade do México.


Após tantos altos e baixos vividos, seu estado de saúde piorou, e o colete antes de gesso, foi substituído por um de ferro que impedia até a sua respiração. Em 1946 sua coluna precisou ser operada. Com fortes dores na perna direita, em 1950 é tratada no Hospital Inglês durante todo o ano. Mas continua pintando. Os médicos diagnosticam a amputação da perna e ela entra em depressão. Pinta suas últimas obras, como 'Natureza Morta (Viva a Vida)'. Em um ano (1950-1951), passa por sete operações na coluna, que infeccionam,

devido o colete de uso obrigatório. Em 2 julho de 1954 participa, em cadeira de rodas, da manifestação contra a intervenção americana na Guatemala.

Frida Kahlo viveu como Diego Rivera recomendou, um dia, a ela: 'Pega da vida tudo o que ela te der, seja o que for, sempre que te interesse e possa dar certo.'

Ela costumava dizer que 'a tragédia é o mais ridículo que há' e 'nada vale mais do que a risada'. E na madrugada de 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos, foi encontrada morta em seu leito. Oficialmente, a morte foi causada por 'embolia pulmonar'.

No diário, deixou as últimas palavras: 'Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais.'
Embora Frida não tenha voltado, seu modo de ser, sua vida e sua obra são de grande importância para a arte atual . Carismática, Frida sabia como seduzir as pessoas. Seu modo de se vestir lançou um estilo, seguido até hoje. Além da moda, sua figura é, cada vez mais, fonte constante de inspiração na música, nas artes plásticas e visuais. As criações para a temporada de 1997 da estilista italiana Paola Frani e a coleção para a primavera/98 de Jean Paul Gaultier - inteiramente dedicadas à pintora - foram o reflexo da onda mundial de retomada de adoração a Frida Kahlo. Os correios americanos lançaram, em 2001, um selo de 34 cents com sua efígie - a primeira personalidade latina a receber esta homenagem.
"Desde os quatorze anos me apaixonei por essa personagem. Era uma mulher livre, anticonvencional, sem medo e muito criticada, mas que nunca renegou seus princípios", declarou a atriz Selma Hayek numa coletiva.
O filme americano sobre sua vida dirigido por Julie Taymor e protagonizado por Selma Hayek ganhou 2 Oscars em 2003 (vestuário e música original, interpretada por Caetano Veloso, com letra da própria diretora). No mesmo ano, a Câmara Sindical da Costura Parisiense concedeu o prêmio de "domínio técnico" a Montserrat Gonzales por um "sonho surrealista" - inspirado em Frida ­ no qual a estrutura do objeto se integra à vestimenta.
O ballet interativo "Sisters", coregrafado por Joahann Kresnik e focando os lados masculino e feminino de Kahlo, foi o sucesso do Festival de Dança Steps, em 1998. Na temporada teatral de Londres de 2002, a peça de Robert Lepage e Sophie Faucher "A casa Azul" (referência ao local nascimento e morte de Frida, hoje um centro cultural em sua homenagem) fez brilhante carreira no Hammersmith Theatre. No Brasil, a cantora Adriana Calcanhoto cita, na canção "Esquadros", as cores do famoso diário de Frida, onde estavam descritos os valores significantes que cada cor lhe inspirava.



BIBLIOGRAFIA
ADES, Dawn. A arte na América latina. Trad. Maria Thereza de Rezende Costa. São Paulo: Cosac & Naify Ediçoes, 1997.
KAHLO, Frida. O diário de Frida Kahlo: um auto-retrato íntimo. Rio de Janeiro : José Olympio, 1996.
KETTENMANN, Andrea. Frida Kahlo Dor e Paixão. Trad. Sandra Oliveira. Lisboa Benedikt Taschen, 1994
LOWE, Sarah. "Ensaio". In: KAHLO, Frida. O diário de Frida Kahlo: um auto-retrato íntimo. Rio de Janeiro : José Olympio, 1996.
QUINTANA, Mario. Caderno H. São Paulo: Globo 2001.
WALTER, Ingor F. (org). Arte do século XX. Trad. Ida Boavida. Lisboa: Benedikt Taschen, 1999. 2v.
ZANORA, Martha Frida Kahlo The Brush of Anguish. São Francisco , California: 1990
_____,Disponível em: <http://www.artmuseum.gov.mo/ >acesso em: 3 abril
_____,Disponível em: acesso em: 3 abril
_____,Disponível em: acesso em: 3 abril




terça-feira, 25 de agosto de 2009

Dica de Filme - Beleza Roubada -




















Apesar de não ser muito ligada a filmes, meu tio avô Sergio Vaz (http://www.50anosdecinema), escreve sobre esse assunto mais detalhadamente, como um cinéfilo mesmo.



Eu, como amante de filmes específicos, estou citando só os meus TOP TOP.

O filme Beleza Roubada do diretor Bernardo Bertolucci (1996) não parece que foi filmado por um homem; explico, o filme é coberto por nuanças detalhadamente femininas.



Cenas, lindas, em que a atriz Liv Tyler (Lucy) escreve poemas em seu quarto. A câmera transmite na imagem os processos pelos quais a personagem está passando ao se descobrir como mulher. O filme é um convite para a descoberta da sexualidade da personagem.



A trilha do filme faz uma costura de elementos, artistas como Stevie Wonder (Superstition), Sam Phillips (I Need Love), Portishead (Glory Box) que passam pela a atmosfera mais 80, 90 e clássicos de Jazz como Nina Simone e Billie Holiday.



Para completar essa mistura fina há momentos no filme coreografados pela Sosta Palmizi um "coletivo" de dança italiano. Fundada em 1984 como uma companhia de teatrodanza formados por Carolyn Carlso, destaques de Raffaella Giodano e Giorgio Rossi.



sábado, 15 de agosto de 2009

Hedwig - Sugestão de Filme



Assisti esse filme apenas uma vez, na casa de um grande amigo, Bernardo. O filme é simplesmente maravilhoso. Esse clipe, acima, remonta de um forma lírica (e hilária) 0 mito andrógino colocado por Aristofanes no Banquete de Platão.

Nesse mito Aristofanes relata a exitencia de três sexos, os filhos da terra, do sol e da lua. Esses sexos possuíam quatro pernas e estavam originalmente ligados.



“Quando então se encontra com aquele mesmo que é a sua
própria metade, tanto o amante do jovem como qualquer outro,
então extraordinárias são as emoções que sentem, de amizade,
intimidade e amor, a ponto de não quererem por assim dizer
separar-se um do outro nem por um pequeno momento. (...) A
ninguém com efeito pareceria que se trata de união sexual.”
Banquete



Platão transmite através de Aristófanes a idéia que uma uniao amorosa e sexual. O mito dos andróginos vislumbra aperfeiçoamento das relações em sua essência com o auxílio de outro.


O filme dirigido por John Cameron Mitchell remonta uma odisséia do rock. Uma transexual de Berlin oriental e sua banda conta a sua vida e suas dúvidas pelas canções.

Percebo que o que mais me encantou no filme foi a trilha, que eu posteriormente ilustrei, durante o curso de artes plásticas.

Tenho um carinho especial pela transexualidade. Passa por uma admiração fora do comum e por uma atração afetiva-sexual-purpurinada.
Há algo de maravilhoso e absoluto nelas, uma fusão de gêneros.

De de tudo fica um pouco, cicatriz de cirurgia, marcas sociais, esmalte, dor de andar de salto. um corpo tão evidentemente marcado por uma história.

Admito 100% que quando vou a uma boate e vejo uma transexual ou uma Drag Queen paro de dançar sento e observo, o jeito que ela anda, o jeito que ela se porta, em que banheiro ela vai?

As vezes acordo com o sentimento que minha peruca imáginaria, de lésbica absurdamente bicha que sou, me faz levantar como na trilha wig in a box.



sexta-feira, 14 de agosto de 2009



terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dica de Leitura


O livro Afinidades Eletivas, do clássico autor alemão Goethe, é relançado no Brasil na tradução de Erlon Paschol, em comemoração ao seu aniversário de 200 anos. O título, extraído das Ciências Naturais, refere-se à expressão attractionibus electivis, usada para designar a atração entre dois elementos químicos diferentes, mas afins. A obra traduz a impossibilidade de solução para os conflitos entre a moral e os sentimentos e ganhou as telas em 1996, por Paolo e Vittorio Taviani, num filme belíssimo e cuidadoso em cada cena. Segundo o crítico Otto Maria Carpeaux, é “um dos primeiros romances psicológicos da literatura européia”. Mistura fina entre ciência e literatura.



Afinidades Eletivas



Goethe, Johann Wolfgang Von



Nova Alexandria

Dica de Leitura NovA York - Eisner


Nascido no Bronx, na parte setentrional de Nova Iorque, na década de 30, uma região tradicionalmente ocupada por operários e imigrantes, Will Eisner é um gênio das graphic novels. A partir da cidade, grande protagonista dessa obra, um novelo de memórias, ruidos e pessoas se desenrolam pelos desenhos desse livro. Lançado pelo novo selo da Companhia das letras, especializado em quadrinhos, o livro reúne quatro historias: Nova York A Grande cidade, O Edifício, Caderno de tipos urbanos e Pessoas Invisíveis.

No livro a cidade imprime nos personagens a intensidade rara dos dramas humanos. Nas palavras de Einsner "À medida que fui envelhecendo e acumulando recordações, passei a me sensibilizar com o desaparecimento de pessoas e referências urbanas. Para mim, eram especialmente perturbadoras as inexplicáveis demolições de prédios. Eu sentia como se, de alguma forma, eles tivessem alma."

Eu conheci o trabalho de Eiser pelo trabalho do grupo de teatro Armazém, do Rio de Janeiro que transpôs a linguagem dos quadrinhos para o palco com o espetáculo Pessoas Invisíveis, dirigido por Paulo de Moraes, esse grupo nasceu em londrina e tem um trabalho maravilhoso.

Confira o site deles: http://www.armazemciadeteatro.com.br/