Em 2008, se me lembro bem, estava trabalhando em um shopping.
Para aqueles que ainda não passaram por essa experiência, podem ainda sentir o gosto desse "espírito natalino" tão cultuado.
No dia 21 de Dezembro saí do shopping como de costume, às 22h. Estava em pleno centro da cidade e tinha vendido no dia cerca de R$7.000,00 . Enfim, saí um pouco assustado com a freneticidade das pessoas, com a falta de cordialidade, e com o desespero do comprar dos meus clientes.
Quando andava até o ponto fui abordada por um senhor de cerca de 45 anos, que tinha cheiro forte de uréia humana, muito mal vestido e com a barba mal feita. Ele me chamou com voz calma e baixa: "Moça você pode comprar uma fralda pra minha filha? Ela tem 7 meses e está com alergias na pele, precisa de uma fralda descartável, não tenho como comprar"
O consumo em massa me assusta. Principalmente os valores hedonistas e manipuladores que envolvem o discurso do "ser bom" para Papai Noel. A reciclagem dessa imagem forçada pelos processos de personificaçao das sociedades com o mínimo possível de coacçao e o máximo possivel de opções, com o mínimo de auteridade e o máximo de desejo leva como signo a domestificaçao autóritaria de um desejo único: consumo. Nem que seja uma bandeira política, compre essa ideia ou curta, compartilhe.
Ainda tremo quando lembro disso. Cheguei em casa não conseguia parar de chorar . Fui tomada por uma tristeza profunda, como se aquele homem tivesse rasgado algo em mim.
A imagem dele foi como um choque, no dia seguinte, não consegui ir trabalhar, não consegui mais vender. Não, o Natal não vem em uma caixa , vem em uma imagem.
Não compro mais no Natal.
Obrigada, amiga. Depois desse texto, rasgadas e aniquiladas estão algumas supostas funções do natal.
ResponderExcluirAgora é só criar imagens, sentidos e vivências mais sinceras para com essa data. Oh trem difícil!